eto de lei pode criar novo bairro na Barra da Tijuca: o Barra Olímpica

Projeto de lei pode criar novo bairro na Barra da Tijuca: o Barra Olímpica Em que bairro você mora? A pergunta deveria ser fácil de responder, mas milhares de pessoas que vivem nos limites entre Barra, Recreio e Jacarepaguá estão nesta dúvida. O projeto de lei 807/2010, em tramitação na Câmara dos Vereadores, jogou mais lenha na fogueira. O texto cria um novo bairro, chamado Barra Olímpica, que abrangeria, entre outras áreas, a Vila do Pan, o Rio 2, o condomínio Cidade Jardim, a Vila Autódromo e o Riocentro. O projeto existe desde 2010, mas ganhou impulso e está na lista de votação da Casa. A justificativa é homenagear os Jogos Olímpicos de 2016, já que várias modalidades serão disputadas no Parque Olímpico, cuja inclusão no bairro seria obrigatória. Moradores da região, porém, veem no texto a possibilidade de deixarem de ser considerados parte de Curicica, um sub-bairro de Jacarepaguá. Outros acreditam que o status de bairro melhoraria a oferta de serviços públicos. De autoria do vereadores Carlo Caiado (DEM), Tânia Bastos (PRB) e Tio Carlos (SD), o projeto tem enfrentado resistência por parte de um grupo de três vereadores. — Desde a semana passada estamos obstruindo a votação, porque entendemos que constituir um novo bairro é uma ação de cunho histórico e cultural importante. Isso não pode ser feito sem audiências públicas — avalia o vereador Jefferson Moura (PSOL). Caiado discorda do colega. Para ele, há apoio popular. Ele lembra que o texto recebeu parecer favorável das quatro comissões pela qual passou e é discutido há quatro anos. — O projeto não é de ontem. Está desde 2010 na casa. É um anseio antigo dos moradores. Por que não se viu isso antes de o projeto ir a plenário? — questiona. Para Moura, a criação de um novo bairro na região poderia levar à especulação imobiliária, o que agravaria o adensamento populacional numa área que sofre com a infraestrutura precária. O coro é reforçado pelo vereador Eliomar Coelho, também do PSOL. Para ele, a aprovação de um projeto como este abriria um precedente perigoso. — Seria um precedente seriíssimo. Este tipo de coisa tem que ser feita por meio de um projeto de estruturação urbana. Pela falta de definição de onde exatamente está localizado, o condomínio Cidade Jardim, teoricamente parte de Curicica, sofre para receber as contas pelo correio. — Simplesmente não recebemos. Temos que pagar tudo pela internet — conta Luciana Garcia, da Associação Amigos do Cidade Jardim. Além disso, dizem moradores, praticamente todos os serviços que atendem ao Cidade Jardim ficam em Jacarepaguá, e não na Barra da Tijuca, que está mais próxima. — Não é questão de qualidade, mas sim de proximidade. Não faz sentido sermos atendidos pelo 18º BPM (Jacarepaguá), por exemplo, quando o 31º BPM (Barra da Tijuca) está muito mais perto — diz Fernando Milanez, também do Cidade Jardim. A comunidade da Asa Branca, em Curicica, enfrenta o mesmo problema. — Gostamos de ser Curicica, mas só temos o nome, porque nenhum serviço é feito em Jacarepaguá — afirma o presidente da associação de moradores local, Carlos Alberto Costa, conhecido como Bezerra na comunidade. — Na teoria seria bom, porque estamos abandonados. Bezerra, porém, não tem opinião formada. Seu maior temor é que, com a criação do bairro, o IPTU fique mais alto. A possibilidade, porém, é descartada tanto por políticos opositores como pelos favoráveis ao projeto. Já a definição de quais serviços atenderiam ao Barra Olímpica seria feita por meio de regulamentação do prefeito. O presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, desconhece o projeto e seus efeitos: — O principal seria conversar com a população. A Câmara poderia ajudar nisso, fazendo reuniões. Até poderíamos fazer votação para definir o nome melhor. PROBLEMA DE DEFINIÇÃO DE BAIRROS É ANTIGO Os moradores da região que constituiria a Barra Olímpica ficaram sabendo do projeto há cerca de dois anos, em conversas informais com o vereador Carlo Caiado. Moradores do Rio 2, como Guilherme Alves, argumentam que, se sair do papel, a medida evitará desentendimentos, já que a definição de onde termina um bairro e começa outro na região da Barra é um problema antigo, como evidenciado pelo Aeroporto de Jacarepaguá, que, apesar do nome, fica na Barra: —Todos os empreendimentos na região são vendidos como se estivessem na Barra. A propaganda sempre é “agora você também pode morar na Barra.” Na prática, porém, isso aqui é Curicica. O próprio site da Associação de Moradores do Rio 2 coloca o condomínio na Barra. O mesmo vale para o Cidade Jardim, no site da construtora Carvalho Hosken. Assessor da presidência da Carvalho Hosken, Henrique Caban avalia que denominar os condomínios como parte da Barra valoriza os imóveis, mas diz que se trata de uma convenção: — Ninguém, por exemplo, diz que mora no Andaraí. Quem mora ali diz que é da Tijuca. É um comportamento comum da população. Para Caban, muita desinformação cerca o projeto de lei que cria a Barra Olímpica: — Não tem razão para polêmica, é só uma homenagem. Caban avalia que a mudança de nome poderia valorizar imóveis. Mas, para ele, o que dita a alta nos preços são os investimentos do poder público na região, como as obras do BRT Transolímpica. Entre os moradores do Rio 2, a piada é a Avenida Embaixador Abelardo Bueno, via que separa duas áreas administrativas. — Se um crime acontecer em uma pista, vem o 18º BPM. Se acontecer na outra, tem que ligar para o 31º BPM — observa o morador do Rio 2 Paulo Bittencourt. O presidente da Associação de Moradores do Rio 2, Luís Silva, conta que por muito tempo a Abelardo Bueno era seu endereço oficial: — Meu endereço era Abelardo Bueno 2.400, apesar de morar longe. Nunca sabia a qual jurisdição eu pertencia, se à da Barra ou de Jacarepaguá. A situação só se resolveu quando minha rua ganhou um nome. A rua em questão é a Escultor Sérgio de Camargo, que passa longe da Abelardo. Sua esquina é com a Rua Franz Weissman. Em que bairro as duas ficam, ele não tem certeza. (O Globo) < Voltar