Antes terra dos emergentes, Barra da Tijuca passa a atrair perfis variados
Estatísticas mostram que aumento do número de postos de trabalho e melhora na mobilidade ajudaram a diversificar população
RIO — A Barra e os bairros adjacentes , com seu estilo de vida pacato, poucos habitantes e natureza exuberante, foram a inspiração, na década de 1930, para “O sertão carioca”, obra do escritor, ilustrador e naturalista Armando Magalhães Corrêa. O cenário mudou a partir de 1969, com o Plano Lucio Costa , quando começou a urbanização da região. O isolamento que atraiu os primeiros moradores e estimulou empreendimentos acabou sendo substituído, rapidamente, por um crescimento expressivo: o último boom imobiliário foi motivado pela Olimpíada de 2016. Ainda vista como uma Miami carioca por uns e subúrbio chique por outros, o fato é que a Barra criou personalidade ao longo do tempo. De sertão carioca, já não tem nada. Nesta última reportagem sobre os 50 anos do Plano Lucio Costa, O GLOBO-Barra traça um perfil do bairro hoje, a partir das características de seus moradores.
Dados de 2018 do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio) revelam que 143.848 pessoas moram nos 56.412 domicílios da Barra. A maior parte da população é de pessoas com mais 60 anos, com ensino superior completo e pertencente à classe A. A população jovem também é significativa e chega atraída pela possibilidade de garantir qualidade de vida pagando menos do que na Zona Sul . Basta comparar os preços da orla: na Avenida Lucio Costa, o valor do metro quadrado atualmente é de R$ 14.873, contra R$ 30.534 no Leblon, R$ 33.182 em Ipanema e R$ 18.691 em Copacabana.
— Assusta quando comparamos o Censo de 2000 com o de 2010; os números cresceram muito — avalia Maurício Eiras Mesquita, coordenador estatístico do Secovi-Rio e morador do bairro. — A Barra tem tudo: praia, shopping, supermercado, comércio. Muitos jovens que saem de casa têm um salário baixo para morar na Zona Sul e vão para o bairro. Os apartamentos são bons e menores, o que diminui custos com IPTU e condomínio.
A economia local, embora abalada pela crise, assim como a de toda a cidade — o que deixou, por exemplo, muitos imóveis residenciais e comerciais vazios — é representativa. Segundo relatório de 2017 do Observatório de Estudos sobre o Rio de Janeiro da FND/UFRJ , 14% da população do município moram na AP4 (área que compreende Barra, Jacarepaguá, Recreio, Itanhangá, Anil, Gardênia Azul, Cidade de Deus, Curicica, Freguesia, Pechincha, Tanque, Taquara, Praça Seca, Camorim, Vargem Pequena, Vargem Grande e Vila Valqueire), onde estão também 16% dos empregos formais . Mário Osório, doutor em Planejamento Urbano e Regional, professor da UFRJ e presidente do Instituto Pereira Passos, afirma que boa parte dos moradores da Barra é de profissionais liberais e empresários de pequeno e médio porte dedicados, sobretudo, à prestação de serviço e ao comércio. No que se refere aos empregos formais, a média salarial é baixa, o que contribuiu para o crescimento das periferias em torno do bairro, nas quais vivem, em grande parte, pessoas que trabalham na região.
— Como o comércio paga pouco, muitos trabalhadores vão morar em Jacarepaguá, Rio das Pedras e Rocinha, nos arredores do bairro. A Barra ainda tem essa característica de emergente. Nos anos 1970, a ideia era que o bairro fosse o centro geográfico da cidade, mas a ocupação seguiu o modelo dos Estados Unidos, onde a classe média ocupava as áreas suburbanas. No Rio, isso se deu perto do mar, onde as pessoas sempre gostaram de morar —afirma Osório.
FONTE: O Globo – Barra
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