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Preços de imóveis podem estacionar ou cair
A decisão da Caixa de elevar os juros para o financiamento da casa própria foi interpretada por especialistas e agentes do mercado imobiliário como um movimento conservador diante do aumento dos custos de captação de recursos e do risco de alta da inadimplência.
Um dos principais fatores que alimentam a alta de custos para os bancos é a trajetória de aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 11,75% ao ano, com perspectiva de novas altas em 2015. Para analistas, outros bancos devem seguir a alta de juros, e os preços tendem a estacionar ou cair.
— Era um processo esperado de aperto do crédito. É uma mudança em relação ao que vinha ocorrendo nos anos anteriores no mercado imobiliário. Em 2014, os preços ficaram estancados e, em 2015, se continuarem estáveis, já vai ser muito bom — avalia Marcus Valpassos, economista da Galanto Consultoria especializado em mercado imobiliário.
Para Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), o aumento anunciado pela Caixa terá impacto significativo no bolso do mutuário, especialmente para quem financiar valores mais altos e com prazos mais longos. Para Oliveira, a Caixa subiu as taxas para se realinhar com a média de juros cobrada pelos bancos privados:
— Na ponta do lápis, a Caixa quer melhorar sua rentabilidade.
Com a alta nas taxas, o ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas prevê efeito sobre os preços:
— É um novo momento para o mercado imobiliário. A perspectiva é que os preços dos imóveis estacionem ou até caiam, porque a precaução cresceu.
DESACELARAÇÃO DE PREÇOS
Valpassos destaca que o setor imobiliário pode enfrentar um cenário ainda mais conturbado se o baixo crescimento da economia se refletir em aumento do desemprego. Caso isso ocorra, ele vê chance de uma queda nominal nos preços de imóveis:
— Não tenho dúvidas de que vai ter queda do preço dos imóveis. A velocidade vai ser tanto maior quanto for o impacto sobre o mercado de trabalho.
A desaceleração dos preços começou em 2014. Os valores de imóveis nas 20 cidades captadas pelo Índice FipeZap tiveram alta de 6,7%, cerca de metade do registrado em 2013 e muito abaixo de 2011, quando chegaram a 26,32%.
Segundo balanço da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), os lançamentos de unidades residenciais e comerciais totalizaram 16.970, com 3.484 comerciais no ano passado. A expectativa do presidente da Ademi, João Paulo Rio Tinto de Matos, é que os lançamentos fiquem no mesmo patamar neste ano.
— (A decisão da Caixa) é uma sinalização ruim porque, apesar de o aumento dos juros ser diluído em um prazo longo, isso vai afetar o comprador. O ano de 2015 será muito parecido com o de 2014, quando o mercado desaqueceu, a economia foi mal e o comércio teve dificuldades no fim do ano — afirma o presidente da Ademi.
Para Rubem Vasconcelos, da Patrimóvel, a decisão da Caixa estimula o aumento dos juros pelos outros bancos no mercado e dificulta o acesso ao crédito:
— Não é o momento oportuno para fazer isso.
O vice-presidente do Sindicato de Habitação (Secovi Rio), Leonardo Schneider, lembra que, desde o ano passado, os estoques vêm aumentando, e o tempo de vacância de imóveis comerciais aumentou.
— Esse cenário deve continuar em 2015. A tendência é de retração do mercado. Isso mostra uma postura mais conservadora da Caixa, que, num quadro de arrocho, está se protegendo — diz Schneider.
Ele faz a ressalva, no entanto, que o brasileiro tende a ver o imóvel como um investimento seguro diante das incertezas econômicas e aposta que os preços deverão ficar estacionados, mas não cair.
CONSTRUÇÃO RECUA 5,7%
A construção imobiliária recuou 5,7% em 2014, depois de queda de 2,5% em 2013, segundo o Índice da Atividade da Construção Imobiliária (Iaci), feito em parceria pela Tendências Consultoria e pela Criactive, empresa de pesquisas do setor da construção.
Em 2012, o setor tinha avançado 3,4%. O índice faz parte do Monitor da Construção Civil, indicador lançado no ano passado, que reúne dados de cerca de 4.300 montadoras e acompanha mais de 24 mil obras no país.
— A confiança do empresário da construção recua desde 2012. A do consumidor, desde 2013 — diz Amaryllis Romano, economista da Tendências.
Já pesquisa do IBGE mostra que a produção de insumos para a construção civil teve queda de 5,7% entre janeiro e novembro de 2014, frente a igual período de 2013.
(O Globo)
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