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Agência de notícias afirma que sistema de esgoto do Rio é medieval

  Pouco mais de um mês após a Associated Press (AP) divulgar uma análise da qualidade da água feita em locais de competições olímpicas no Rio, que teria encontrado níveis perigosamente altos de vírus e bactérias de esgoto humano, a agência de notícias voltou a criticar a cidade. Dessa vez, o alvo é o sistema de saneamento básico. De acordo com o texto da correspondente Jenny Barchfield, o sistema de esgoto da cidade pode ser comparado ao usado em Paris e Londres na Idade Média. “Um especialista em saúde pública classifica o sistema de esgotos do Rio como essencialmente “medieval”, comparável a Londres ou Paris nos séculos XIV ou XV. E não é só no Rio. Menos da metade das residências brasileiras é conectada a redes de esgotos, o que significa que boa parte das águas residuais geradas por cerca de 100 milhões de pessoas em toda essa nação do tamanho de um continente corre por valas ao ar livre que cortam áreas como a da casa de Kaike, sujando riachos e rios que, por sua vez, contaminam lagos e lagoas, praias e baías”, afirma trecho da reportagem, que usa como exemplo a situação de uma família que vive na Favela da Rocinha. Ainda de acordo com a reportagem, a falta de saneamento básico influi inclusive na futuro das crianças. Segundo a AP, “especialistas em saúde pública dizem que crianças expostas ao esgoto adoecem com mais frequência, têm menos probabilidade de frequentar a escola regularmente e de desenvolver toda a sua capacidade intelectual e, como resultado, acabam conseguindo empregos com salários significativamente mais baixos do que pessoas de situação socioeconômica semelhante que cresceram com saneamento básico”. A agência de notícias procurou ainda médicos dos postos de saúde da Rocinha, que não quiseram gravar entrevista. Eles, no entanto, afirmam à reportagem que 40% de todos os casos que atendem são relacionados à exposição ao esgoto: “Entre seus pacientes, casos de gastroenterite, hepatite A e infecções micóticas da pele são os mais comuns. Crianças pequenas são as mais afetadas, dizem os médicos, provavelmente porque a maioria das pessoas intensifica a produção de anticorpos mais tarde, na adolescência”, escreve Jenny Barchfield. A reportagem ressalta ainda que o problema dos esgotos tornou-se uma questão política sensível no momento que ficou claro “que as autoridades estaduais e municipais do Rio não conseguirão limpar as águas a tempo para as Olimpíadas”, o que, de acordo Jenny Barchfield, deveria ser um dos principais legados dos Jogos Olímpicos e um dos argumentos centrais usados no documento de candidatura oficial da cidade. “Mas, a menos de um ano do início dos jogos e com poucas melhorias alcançadas, as autoridades baixaram as expectativas. O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, adiou recentemente o prazo para a conclusão da limpeza da Baía de Guanabara, onde serão realizadas as competições de iatismo das Olimpíadas, de 2016 para 2035”, afirma o trecho. Ainda de acordo com a AP, que falou também com o diretor da associação de gastroenterologistas do Rio, o Brasil é a sétima maior economia do mundo, mas ficou em 84º lugar em acesso a água e saneamento básico entre 178 países no Yale Environmental Performance Index de 2014, atrás de nações como Turcomenistão, Moldávia, Albânia, Síria e Chile. O texto chama ainda medidas como biorremediação de paliativas: “As autoridades insistem que vão garantir a segurança das águas nos locais de competições olímpicas possivelmente usando medidas paliativas tais como biorremediação, uma técnica de manejo de resíduos que utiliza organismos microscópicos para degradar contaminantes. No entanto, os especialistas dizem que as medidas planejadas não adiantarão praticamente nada contra os vírus causadores de doenças que são abundantes nas águas. E as promessas olímpicas oferecem pouco alívio para os moradores das favelas do Rio”. LAUDO POLÊMICO Após a divulgação do laudo feito a pedido pela AP da qualidade das águas no Rio, o governo do estado anunciou mais uma tentativa de despoluir a Baía de Guanabara. Pezão assinou um acordo de cooperação técnica com sete universidades e três centros de pesquisa para iniciar um novo plano, prometendo deixar, em 20 anos, as águas da terceira maior baía do mundo límpidas. Pezão disse ainda que pretende criar a Agência de Governança da Baía de Guanabara, que reunirá poder público, universidades, instituições científicas e representantes da sociedade civil. Já o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o alemão Thomas Bach, colocou panos quentes no assunto, e chegou a mergulhar na Praia da Barra durante a cerimônia que marcou um ano para os Jogos no Rio. Na ocasião ele afirmou saber que as autoridades brasileiras não conseguirão cumprir as metas de despoluição da Baía de Guanabara, como prometido, mas disse que o importante é dar boas condições aos atletas. O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016 afirmou, na ocasião, que continua realizando as análises usando os padrões internacionais adotados em Olimpíadas anteriores, visando a garantir a saúde dos cerca de 1.400 atletas que vão disputar medalhas nas provas aquáticas. (O Globo) < Voltar