de tem mais de 90% das ruas com cabos aparentes nos postes

Cidade tem mais de 90% das ruas com cabos aparentes nos postes A paranaense Mariana Silva veio de Curitiba na semana passada para visitar o Rio disposta a conhecer as transformações por que passa a Região Portuária. Ela saiu às ruas com uma câmera na mão para registrar as fachadas dos prédios e as avenidas reurbanizadas. A primeira parada foi na calçada em frente ao Museu de Arte do Rio (MAR), mas, assim que chegou, Mariana ficou decepcionada com os emaranhados de fios que ficaram entre sua lente e a construção. - Estão recuperando um lugar esquecido, mas a poluição visual de fios e cabos persiste, mesmo numa área revitalizada. Tentei fotografar algumas fachadas, mas, às vezes, é difícil - disse ela, enquanto caminhava pela Rua Sacadura Cabral. A área do Porto é apenas uma das que sofrem com os emaranhados de fios que poluem a paisagem de uma cidade marcada por belezas naturais e prédios históricos. Após percorrerem por dois dias cerca de 200 ruas do Centro e das zonas Sul, Norte e Oeste, repórteres do GLOBO constataram que, em mais de 90% das vias, a malha de fios é aparente. O número é confirmado pela prefeitura, que diz que na cidade há 450 mil postes. Desse total, apenas 10% pertencem à RioLuz, companhia municipal de energia e iluminação, que enterrou 11 mil pontos de passagem de cabos de luz nos últimos anos. O restante serve de suporte a fios de diferentes concessionárias. Na Zona Sul e no Centro, apenas as principais vias - como as da orla, a Marquês de Abrantes, no Flamengo, e a Barata Ribeiro, em Copacabana - têm 100% de sua malha subterrânea. Em Laranjeiras, por exemplo, a rua que leva o nome do bairro não tem fios até o Viaduto Engenheiro Noronha. O mesmo não ocorre com a Ipiranga, que faz esquina com a via. Ali, na altura do número 15, um poste tem 32 cabos ligados que lembram um novelo de lã. A proximidade com a janela de um casarão de dois andares é tão grande que um adulto conseguiria alcançá-los com o braço. - Vai precisar alguém receber uma descarga elétrica para alguma providência ser tomada. Entrei em contato com a prefeitura e pedi uma inspeção, mas nada foi feito - disse um morador do prédio ao lado, que não quis revelar o nome. Outros pontos em que os "novelos" de cabos chamam a atenção são a Avenida Mem de Sá, próximo aos Arcos da Lapa, e a Epitácio Pessoa, na Lagoa, na esquina com a Cícero Góis Monteiro. RIO CIDADE, UM BOM EXEMPLO Para o arquiteto e urbanista Fernando Janot, o Rio era "para estar no mesmo patamar que Paris e Londres, onde não há poluição visual". - Não sei o que é mais embolado: os fios no postes ou a discussão sobre o enterramento deles - diz. - Já que não há tempo para deixar a cidade sem poluição visual para as Olimpíadas, espero que um dia os cariocas tenham a vista livre para olhar para qualquer lugar sem se preocupar com os fios. Para especialistas em urbanismo, um bom exemplo de solução para o problema foi projeto Rio Cidade, que no fim dos anos 1990 redesenhou alguns bairros. Entre as intervenções, ocorreram pavimentação de calçadas, reorganização de pontos de ônibus e instalação de dutos para a passagem de fios subterrâneos. No Leblon, em Madureira e na Tijuca, foram implantados 3.770, quatro mil e 10.500 metros respectivamente. A Secretaria municipal de Conservação, responsável pela gestão de fios e postes, informa que, em 2011, o prefeito Eduardo Paes baixou um decreto estabelecendo que todas as novas obras executadas na cidade deveriam ter 100% da fiação subterrânea, evitando a poluição visual e facilitando a manutenção. Mas a principal usuária da rede de cabos da cidade, a concessionária Light, recorreu da decisão e conseguiu uma liminar no Supremo Tribunal Federal que invalidou o decreto. - Assim que a Light ganhou a liminar, as outras operadoras também conseguiram, e perdemos nosso poder de pressionar as empresas (para fazer o enterramento dos fios) - diz o secretário Marcus Belchior. Segundo ele, desde 2013, a autorização para a instalação de postes tem sido mais rígida, evitando o aumento do número de pontos com problemas. Belchior diz ainda que a secretaria tem se reunido semanalmente com as empresas, para que elas acabem com os emaranhados. Quem não faz isso é punido, informa. Só em 2014, foram emitidas 3.273 notificações, com aplicação de 4.497 multas. Procurada, a Light, informou por e-mail que tem 10,5 mil quilômetros de fios sob o solo no estado, mas não disse se há algum plano para enterrar outros cabos. Em 2013, para suspender a obrigação de cumprir o decreto municipal, a empresa alegou que o custo para o enterramento seria de R$ 20 bilhões e implicaria um aumento de cerca de 50% na tarifa. O STF concedeu a liminar, afirmando que apenas a União pode estabelecer as formas de atuação das suas concessionárias. - O serviço de iluminação é federal e está subordinado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ao mesmo tempo, é o município que legisla sobre a forma de ocupação do solo urbano. Na visão do Supremo, quem deveria decidir a regulamentação do setor são as agências reguladoras. No caso de energia, a Aneel. No caso das empresas de telefonia, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) - diz Gustavo Binenbojm, advogado especialista em direito constitucional. Procurada, a Anatel informou, por nota, que a questão do enterramento de fios cabe ao município. Já a Aneel não se manifestou. As empresas de telefonia e de serviço de TV e internet - como Oi, TIM, GVT e NET - foram procuradas, mas não informaram se existe uma programação para, nos próximos anos, enterrar os cabos que hoje estão na superfície. Na Zona Portuária, onde o emaranhado de fios impressionou a turista paranaense Mariana Silva, o problema não é a falta de dutos subterrâneos. Desde o início das obras de reurbanização da região, em 2010, já foram instalados 33 quilômetros deles, segundo a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cedurp). No entanto, diz a empresa, até agora só a Light enterrou, em algumas áreas, os cabos elétricos. (O Globo) < Voltar