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Número de casos sobe 633% na cidade e já faz especialistas temerem epidemia
Era o primeiro dia de férias do jornalista Daniel Mendonça, mas, quando ele acordou, na última segunda-feira, não tinha motivos para comemorar. Dores nas articulações, enjoo e febre alta o obrigaram a buscar atendimento na Clínica São Vicente, na Gávea.
Foram cinco horas em observação, até que ouviu do médico o resultado do exame de sangue: o nível de plaquetas estava no patamar mínimo - no mesmo de quando tivera dengue, três anos antes. A viagem programada foi suspensa, e Daniel agora aguarda em casa o laudo de um outro teste, para saber se está ou não com a doença e se vai engrossar as suas estatísticas no Rio.
De janeiro a agosto deste ano, a cidade teve 15.241 casos, uma alta de 633% em relação ao mesmo período do ano passado (2.079). No estado, o panorama é ainda pior: foram 52.877 pessoas infectadas nos primeiros oito meses do ano, 729% a mais do que em igual período de 2014 (6.378). Números que já fazem especialistas temer uma epidemia.
- Quando tive dengue, em 2012, foi no auge do verão. Na minha casa, não tenho planta. Nem moro perto de lugar de risco para se contrair a doença. Como posso ter tido tanta sorte? - ironiza Daniel, que mora na Tijuca.
Dois fatores, segundo infectologistas, podem ter contribuído para o crescimento do número de casos. O primeiro é o calor. O inverno, estação em que a temperatura deveria ser mais amena, teve altas temperaturas. E o pouco que choveu foi suficiente para abastecer os criadouros do mosquito Aedes aegypti. Além disso, o vírus que está fazendo vítimas agora - a doença tem quatro tipos - pode ser um que não circula há anos, portanto há menos gente com imunidade a ele.
- Em 2012, o vírus tipo 4 fez um estrago. Agora, pode ser que o tipo 1, que não circula há muito tempo, esteja de volta. A dengue é cíclica. Quando há um surto, é praticamente zero a chance de haver muitos casos no ano seguinte, porque a população está imune - diz o infectologista Edmilson Migowski, da UFRJ.
A prefeitura não informou que tipo de vírus tem infectado mais os doentes nos últimos meses. Bangu foi o bairro com o maior número de casos de janeiro a agosto deste ano: 2.179, um aumento de mais de 1.000% em relação ao registrado na região no mesmo período de 2104. Os números mais altos continuam na Zona Oeste. Em Realengo, foram 771 pessoas infectadas e em Padre Miguel, 706. Na Zona Norte, Irajá teve 511 casos e Vila Isabel, 425.
A febre alta e as manchas vermelhas pelo corpo levaram a operadora de marketing Sayonara Sepúlveda, de 47 anos, a procurar uma unidade de saúde da prefeitura há dois meses. Foi a primeira vez em que ela teve dengue.
- Foi horrível. Não desejo isso para ninguém. Durante uma semana, fiquei muito mal. Não conseguia me levantar da cama. O médico me receitou seis litros de água por dia. Nunca passou pela minha cabeça que eu pudesse ter dengue nesta época do ano. Graças a Deus, a minha filha, de 9 anos, não teve nada - conta Sayonara, moradora do Méier, bairro com cem registros da doença até agosto de 2015, número quatro vezes maior que no ano passado inteiro.
Segundo o Ministério da Saúde, entre janeiro e 8 de agosto deste ano, o Sudeste foi a região do país com o maior número de casos (886.472). No período, a capital paulista registrou a maior taxa de contaminação em abril: foram 456 casos por cem mil habitantes. No mesmo mês, o Rio atingiu 85. De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), uma taxa acima de 300 já configura uma epidemia.
Com o clima mais frio, os número desabaram nas duas capitais. Mesmo em queda, o Rio ultrapassou São Paulo em julho: foram 11,2 casos por cem mil habitantes contra 10,9.
- Os números indicam que a chance de uma epidemia no próximo verão é real. Os casos cresceram, e a cidade em julho ultrapassou São Paulo, que viveu uma epidemia há alguns meses - ressalta Migowski. - Devemos também ficar em alerta para as Olimpíadas. Se o Rio tivesse vivido uma epidemia este ano, daria para afirmar que 2016 seria tranquilo. Por enquanto, é prudente se preocupar.
Apesar de o estado, segundo o critério da OMS, não ter vivido uma epidemia, os índices de infectados no fim do verão e no início do outono já mostravam uma situação preocupante. O maior número de contaminados foi registrado em maio - 13.035 (1.560% a mais que no mesmo mês do ano passado). Na época, para combater o mosquito transmissor da doença, o governador Luiz Fernando Pezão sancionou a lei 6.990/15, que obriga ferros-velhos e empresas de transporte de cargas e de passageiros a adotarem medidas para evitar o surgimento de criadouros.
- As multas variam de R$ 200 a 200 mil reais - diz o deputado estadual Luiz Martins (PDT), autor do projeto da lei. - Ainda não sei de ninguém que tenha sido multado, o que é lamentável. Só o Procon tem atuado com eficácia.
O prefeito Eduardo Paes afirmou nesta terça-feira desconhecer que os números da dengue deste ano estejam maiores que os de 2014. Ele informou que conversaria com o secretário de Saúde, Daniel Soranz, sobre o assunto.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde, as ações de combate aos criadouros do mosquito na capital são realizadas o ano inteiro, mesmo nos meses de baixa incidência da dengue. Este ano, afirma o órgão, já foram feitos cinco milhões de inspeções a imóveis, em busca de focos do Aedes aegypti, tendo sido eliminados 550 mil. Em 2014, foram 8,4 milhões de visitas e mais de um milhão de focos extintos.
A previsão de chuva para amanhã causa preocupação, por causa da possibilidade do aumento do número de mosquitos no Rio.
- Se chover, sete dias são suficientes para haver mais mosquitos na cidade - disse o infectologista Marcos do Lago, que também é professor de pediatria da Uerj. - Uma vacina contra dengue deve surgir nos próximos anos. Enquanto isso, não há muito como se proteger. Em geral, de quatro em quatro anos ocorrem os surtos. O Rio pode estar próximo de mais um.
COMO SE PREVENIR
Água parada. A principal medida é eliminar águas paradas, principais criadouros do mosquito. É preciso verificar se há pneus ao ar livre e vasos de planta acumulando água. Caixas d'água destampadas e até tampinhas de refrigerante também podem abrigar ovos do Aedes.
O que fazer. É preciso encher de areia até a borda os pratinhos dos vasos de plantas; lavar semanalmente por dentro, com escovas e sabão, os recipientes utilizados para armazenar água; e jogar no lixo todo objeto que possa acumular água, como embalagens usadas, potes, latas, copos, garrafas vazias etc. Até a tampa do vaso sanitário em banheiros pouco usados deve ficar abaixada.
Os sintomas. A doença causa febre alta com início súbito, dor de cabeça, atrás dos olhos e perda do apetite. Podem surgir manchas e erupções na pele, semelhantes às do sarampo, principalmente no tórax e nos membros superiores. Também ocorrem náuseas e vômitos; cansaço; moleza e dor no corpo. A orientação para quem tiver esses sintomas é procurar atendimento médico imediatamente.
(Extra)
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