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Barra: Condomínios organizam central de monitoramento
Certos de que é melhor prevenir do que remediar, associações comerciais e de moradores, empresários da construção civil e a rede hoteleira da Barra e do Recreio decidiram se unir num projeto para coibir a violência.
Consequência das reuniões de um grupo de trabalho formado há três meses, na esteira de crimes bárbaros como o assassinato da dona de casa Ana Lúcia Neves quando chegava à sua academia, no Recreio, a ideia é reunir as imagens das câmeras de segurança mantidas pelos condomínios em uma central de monitoramento, que ajudaria os órgãos públicos na vigilância.
Até o momento, cerca de 50 condomínios já se mostraram favoráveis ao projeto, que está sendo finalizado para apresentação à Secretaria estadual de Segurança. Enquanto isso, o governo antecipa a Operação Verão 2016, que começará neste fim de semana. Cerca de 50 policiais devem dar apoio ao efetivo do 31° Batalhão, que é de 578 agentes (contando-se os 48 recém-formados que se somarão aos atuais até a semana que vem).
Os recentes arrastões ocorridos na Zona Sul acenderam o alerta, e a expectativa de maior fluxo de pessoas nas praias a partir da inauguração do Lote Zero do BRT Transoeste, prevista para dezembro, também aponta para a necessidade de reforçar o policiamento na orla.
Morador da Barra e ex-comandante do 31º Batalhão (Recreio), do qual esteve à frente em 2010, o coronel aposentado Antônio Couto da Cruz é diretor de segurança da Barralerta, associação que organiza as reuniões do grupo criado por moradores e empresários para planejar o funcionamento da central de monitoramento. Couto explica que o projeto seria uma reedição do Bairro Mais Seguro, que ele idealizou e vigorou em 2006, na Zona Sul.
A ideia é manter uma espécie de sala de operações, que armazenaria as imagens das câmeras externas de segurança de diversos condomínios, shoppings e empresas. Após analisados e filtrados, os trechos considerados relevantes seriam disponibilizados ao governo estadual.
— Queremos utilizar as câmeras dos condomínios que estão voltadas para a rua e as das entradas dos estabelecimentos comerciais; por exemplo, as do BarraShopping, já que um criminoso em fuga pode se esconder no estacionamento deles. Precisamos também de aparelhos inteligentes que ajudem na identificação de pessoas e veículos. As câmeras de circuito interno ficam de fora. Mas podem vir a ser solicitadas depois, em casos específicos — detalha Couto.
Para ele, o projeto ganhou força devido aos recentes casos de violência na região e ao forte aporte financeiro garantido pela iniciativa privada, que se somaria ao dos residenciais. A construtora Carvalho Hosken seria o principal financiador privado do projeto, seguido pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH). O orçamento geral ainda está sendo definido, assim como a participação dos condomínios.
— O projeto poderá ser concretizado até de forma gratuita (sem taxa para os condomínios), dependendo, claro, de quantas empresas aderirem. Ninguém aqui quer lucro, mas sim mostrar ao poder público que é possível fazer algo funcional com um custo relativamente baixo. Vamos precisar de internet para o sistema de câmeras, por exemplo. Se uma empresa quiser colocar o nome no projeto e, por permuta (em troca de divulgação da marca), prestar o serviço, isso já diminuirá o custo total — ressalta.
Kleber Machado, presidente da Barralerta, endossa:
— A colaboração dos condomínios vem, em primeiro lugar, com as imagens, e, em segundo, com a ajuda financeira, voluntária, para a manutenção da central e da equipe. Quando o projeto estiver pronto, vamos levá-lo ao secretário (José Mariano) Beltrame, para que seja firmado um convênio com a Secretaria de Segurança que autorize o monitoramento e o repasse das informações à polícia.
Comandante do 31° BPM, o coronel Sérgio Schalioni ainda não foi procurado pelo grupo, mas diz que vê com bons olhos o modelo que a comunidade quer implementar:
— Sei de alguma coisa por alto, e acho muito interessante. Eu trabalhei em Volta Redonda, e lá fizeram algo bem parecido, com câmeras inteligentes. O número de casos quase zerou.
A Secretaria de Segurança diz que só se pronunciará sobre o projeto após recebê-lo.
Em Jacarepaguá, a Associação Comercial e Industrial de Jacarepaguá (Acija) cogita implantar um sistema semelhante de monitoramento por câmeras, mas, segundo Edison Parente, presidente da entidade, seus membros não têm demonstrado interesse na iniciativa, devido ao alto custo.
CONDÔMINOS QUEREM SER CONSULTADOS
Entre as lideranças dos condomínios convidadas a participar de uma reunião promovida pela Câmara Comunitária da Barra para discutir o projeto da central de monitoramento integrada, o apoio foi unânime, conta o presidente do órgão, Delair Dumbrosck:
— Tivemos de 40 a 50 condomínios, da Barra e do Recreio, presentes na reunião de semana passada, e todos apoiaram a ideia. Vamos aguardar o projeto ser finalizado para mostrá-lo pronto a eles.
Apesar do quórum, há quem lembre que a aprovação e o desenvolvimento do projeto não serão tão simples. Entre essas pessoas está a presidente da Associação Bosque Marapendi (ABM), Sônia Magalhães, que é a favor da ideia:
— Aqui no bosque da ABM colocamos um sistema de câmeras com uma cabine onde tudo é gravado e já obtivemos resultado, como na fuga de assaltantes que roubavam próximo à Dulcídio Cardoso. Nossas câmeras filmaram os rostos deles durante a ação, e isso ajudou a polícia na sua identificação. Com esse novo sistema integrado ficaria tudo mais fácil, mas só aqui na ABM estamos falando de 23 prédios, e dependemos de que eles se disponham a virar suas câmeras para a rua ou a instalar novas. Já tivemos um projeto parecido por aqui e ninguém se interessou.
Da mesma opinião partilha José Mariel da Cruz, um dos representantes do Barra Sul presente às reuniões.
— Cobrar R$ 10 de cada uma das unidades de cada condomínio, por exemplo, talvez não seja interessante. Tampouco que cada prédio convoque uma assembleia extraordinária só para discutir isso; não vai dar certo. Cada prédio deveria arcar com a cota que achar possível, sem onerar o condômino. Se o processo chegar aos moradores, vai demorar — pondera.
Mas residentes do próprio Barra Sul, como o engenheiro Rodrigo Sampaio, não pretendem deixar que a decisão fique apenas na esfera admnistrativa do condomínio:
— Acho ótima a ideia, mas temos que ser comunicados, primeiro sobre o projeto, o que não foi feito, e depois sobre quando será a reunião conosco, porque tem que haver uma.
SUGESTÃO DE FECHAR O BRT NO DOMINGO
A parceria entre a iniciativa privada e a segurança pública também deve resultar na instalação de uma cabine blindada, de dois andares, no trevo em frente ao condomínio Alfa Barra, próximo à orla, até o início do verão. A área do Posto 8 — que engloba o Alfa Barra — é considerada pelo coronel Schalioni, do 31º BPM, como a maior preocupação de sua inteligência na região.
— Acredito que vamos receber o mesmo número de policiais do último verão, cerca de 50, até porque não tivemos casos graves como esses arrastões na Zona Sul — diz o comandante. — Nossa atenção está voltada para o trecho entre o Terminal Alvorada (na altura do Posto 8) e a orla, próximo ao Alfa Barra. Ali desemboca a maior parte do público que vem de outras regiões, e, com ele, os criminosos.
Schalioni acredita que a torre blindada inibirá os bandidos que aproveitam o grande fluxo para praticar delitos:
— Ela é bem alta e vai intimidar quem vier em direção à praia com essa intenção.
A torre, atualmente no pátio do 31º BPM, ficava no encontro das avenidas Salvador Allende e Abelardo Bueno, e foi retirada por causa das obras do BRT Transolímpico. Segundo Cléo Pagliosa, presidente do 31º Conselho Comunitário de Segurança, responsável por intermediar a negociação com os empresários, falta apenas a licença urbanística para que seja instalada na orla. Ele não revela, porém, que empresa custeará a implantação.
No Posto 12, no Recreio, segundo ponto de maior preocupação de Schalioni dentro da Operação Verão, devido à proximidade com o Terreirão e ao volume de pessoas que chega à região pela Avenida Gilka Machado, a população também se mostra preocupada. Moradores preparam um abaixo-assinado pedindo mudanças no policiamento.
— Dois livros estão correndo, um de assinaturas e um de propostas. Estamos recebendo sugestões de gente que quer fechar o BRT aos domingos, colocar mais câmeras etc. Queremos ouvir todo mundo, mas no mínimo precisamos de um posto avançado de segurança e três cabines entre os postos 9 e 12. Depois do BRT, o número de roubos aumentou — diz o organizador, Evandro Brasil.
Segundo Schalioni, dos criminosos que atuam na área do 31º BPM, 50% são da Cidade de Deus; 7%, do Terreirão e das adjacências; e o restante, de outras áreas, principalmente da Rocinha.
Enquanto a PM cuidará da segurança, a Guarda Municipal e a Secretaria de Ordem Pública farão o ordenamento das praias. O efetivo da guarda, na região, é de 170 agentes, e nos fins de semana haverá reforço, incluindo 13 tendas posicionadas nos pontos de maior concentração.
(O Globo)
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